"A medida do amor é amar sem medida" Santo Agostinho

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010


Queria chegar mais perto

Mas tuas barricadas me afastam
Teu asfalto é bem quente
Difícil de pisar com pés descalços
Teu medo tão freqüente
Difícil de chegar com o coração desarmado

Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se revela. 
Albert Einstein

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Andei lendo...

Perdoando Deus , Clarice Lispector


"Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escadalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe."

O que é bonito, Lenine














O que é bonito
É o que persegue o infinito
Mas eu não sou
Eu não sou, não...
Eu gosto é do inacabado
O imperfeito, o estragado que dançou
O que dançou...
Eu quero mais erosão
Menos granito
Namorar o zero e o não
Escrever tudo o que desprezo
E desprezar tudo o que acredito
Eu não quero a gravação, não
Eu quero o grito
Que a gente vai, a gente vai
E fica a obra
Mas eu persigo o que falta
Não o que sobra
Eu quero tudo
Que dá e passa
Quero tudo que se despe
Se despede e despedaça

O amor mais inocente que tive

O amor mais inocente que tive foi também o mais belo. Não passou rápido nem devagar, apenas o tempo suficiente. Estudávamos na mesma sala desde os meus treze anos e éramos amigos. Lembro que ele tinha um grupo de música (ta bem vou admitir era de pagode, por favor, sem julgamentos) e íamos sempre ver os ensaios depois da aula, ele morava pertinho da praia e depois a turma esticava, foi muito bom. O engraçado é que só começou porque uma amiga tava interessada nele (mesmo sabendo que ele gostava de mim), mulher é um bicho complicado mesmo, e só pra provar pra ela, tentei ficar com ele e acabei me apaixonando. E ele era muito, muito bom. Nossas idas ao cinema, muita batata Ruffles, dá saudades, não saudades do tipo que você quer reviver, porque já passou, mas aquela que quando a gente pensa chega esboça um sorriso no canto do rosto. Somos amigos até hoje, grandes amigos. Conversamos sobre tudo,  gosto de saber que um sentimento tão doce não se perdeu no tempo, ele apenas se transformou.

SUPERFICIAL

Estão as máquinas, o artificial, se aproximando do humano ou o humano está se tornando artificial, superficial demais, semelhantes as máquinas? Não consigo entender as pessoas, seus comportamentos, hoje tudo é muito fútil, muito volúvel. As relações interpessoais vêm se tornando cada vez mais distante, mas falando especificamente, as pessoas permanecem juntas para passar apenas momentos e depois se afastam tão rápido quanto se aproximaram, não sei se por medo de se mostrar ou de perceber o outro. É uma busca pela perfeição onde o defeito do outro deixa de ser uma característica do mesmo e passa a ser mais um motivo de desculpa para um afastamento.




As pessoas não se preocupam umas com as outras, olham apenas para suas próprias necessidades. O indivíduo sentado na esquina com fome faz parte da paisagem, a negação a fome do outro faz parte desse processo de desconexão de ser humano. Já sei! Neologismos demais. Mas apenas para explicar que não consigo me enquadrar neste distanciamento. Choro com a fome do outro, às vezes não posso ajudar, mas choro. E gosto de conhecer defeitos e fraquezas dos outros por que isto os torna humanos, igualmente a mim, cheio de fraquezas. Gosto da conexão, gosto da solidão também, mas necessariamente não é preciso se isolar do mundo para aprender com a solitude. Também não sei ficar tão próximo como os bandos, porque para sentir o outro não precisa está tão próximo. Mas precisa sentir.


Não me adapto as busca noturna por amores passageiros apenas para não dizer que está só. Procuro amores duradouros, mesmo que precise de tempo e a solidão, não aquela em que busco consolo, se abata sobre mim. E quando falo amores, não falo de amores do tipo Eros, falo do tipo fraterno também. Gosto de pessoas de verdade, sinceras, verdadeiras, que não te julgue pelos teus erros, e perceba que estes fazem parte do processo do acerto. Gosto de pessoas que se preocupam. Acredito sinceramente no amor. Eu lamento a falta de predisposição das pessoas de se entregar. A superficialidade com que as pessoas enxergam os relacionamentos e as maneiras como as pessoas se fecham em seus mundos particulares. Lamento principalmente pela falta de sinceridade, tipo assim, diz logo e assume sou superficial, para que se mostrar profundo se o tempo revela estas coisas?


Às vezes parece descontextualizado falar de verdades e afastamentos, quando uso máscaras e armaduras. Peço desculpas então. Mas me deixa explicar: minha máscara não me dá o ar da mentira e da superficialidade. Ela apenas me deixa menos vulnerável enquanto não encontro pessoas que não se afastam tão rápido quanto se aproximam, pessoas com defeitos e que os mostram, se mostram. Enfim, talvez não consiga expressar direito, mas estou à procura do não artificial.


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Tem dias que estou assim

Alguns dias, por mais que você queira jogar o astral lá pra cima, parece que tem alguns fatos que fazem questão de te deixar no sofá, comendo, assistindo filme e chorando pelos corações partidos de pessoas que você sabe que são só personagens. O ser humano é assim, eu também, a pesar de me achar um ser não humano altamente metafórico e paradoxal, tenho um monte de dias de deprê e sem vergonha nenhuma digo: choro pra cacete. Depois passa, mais quando você tá na fossa parece que o mundo vai acabar.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

INFÂNCIA II

Conheci Tate e Taci quando tinha uns nove anos de idade, mais ou menos na terceira série do primário e a amizade perdura ao longo dos anos até hoje. Acredito que sermos amigas, ainda, talvez se deva ao fato de que cada uma tem sua vida e os encontros são cheios de histórias para contar e muitas saudades. Não critico as pessoas que tem amizades muito grudadas, mas para mim não funciona. Voltando, nossa amizade sempre foi muito boa e saíamos para muitos lugares divertidos, mas como meu pai era só um pouquinho super protetor, tínhamos planos e mais planos para que eu pudesse fugir de casa e poder aproveitar as festas. Na época de São João, no nosso bairro, sempre tem muitas festas e comemorações. Quando a gente já tinha uns doze para treze anos já estávamos na época das paqueras e vontade de namorar, como dependia de meu pai – ficava só na vontade, o São João era a melhor época, tinha muito forró e dança juntinho. Esperávamos um ano inteiro, e lógico passávamos um tempão bolando um super plano para poder me tirar de casa. Quando a palhoça lá perto da casa das meninas era armada, colocávamos o plano em ação. Meu pai, muito severo, não deixava sair de casa para as festas: − isso não é lugar para você! Mas obviamente que não desistíamos. Lá pelas seis horas da noite, Tate ia lá para casa, enquanto ela distraia meu pai, muita conversa, muito “sim senhor”, eu, no meu quarto, ganhando tempo, arrumando minhas roupas. Minha mãe era mais maleável e eu dizia para ela que ia para uma festa na casa de Tate (pelo menos eu contava uma meia verdade). Depois de um tempo, entregava para ela uma bolsa com minhas roupas, dizendo para meu pai que eram coisas que ela tinha me emprestado e ela ia na frente com as minhas coisas. Dizia ao meu pai que ia comprar pastel na esquina e só voltava no outro dia. Dançava a noite inteira com um menino que eu achava que gostava muito. Lá pelas doze e meia lá vinha seu Sebastião, pai das meninas, com um cachorro e um cinto na mão buscar a gente (pois já tinha passado da hora). Dormia na casa das meninas e no outro dia ia para casa levar broca e ficar de castigo. Como é que meu pai não suspeitava do nosso plano? Era todo ano a mesma coisa! Mais aqueles foram os melhores São João que tive, acho que só empata com os de Gravatá, mas essa já é outra história.

domingo, 10 de outubro de 2010

Frases I


"A aguia voa sozinha, os corvos voam em bandos. O tolo tem necessidade de companhia e o sábio necessidade de solidão." Friedrich Rückert

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Adooooooro!

Ir ao cinema sozinha; polinização; filosofar sobre o amor;  gosto de solidão; me cobrir com um lençol que acabou de sair do varal; de dançar sentada no sofá fazendo careta quando acho uma comida muito boa; gosto de comer  assistindo alguma coisa engraçada na TV; gosto quando o Barro Macaxeira desce a ponte e dá friozinho na barriga; gosto do cheiro de terra quando chove; adoooro cebola e pimentão; gosto de banho de chuva; de chorar com comédia romântica; de comer sentada no chão da sala; de chegar em casa e tirar a sandália e por o pé no chão; gosto de tomar o caldo do feijão antes que ele fique pronto. Acho que tá bom. Quem não gosta de algumas coisas esquisitas? Mas como já dizia o poeta “de perto ninguém é normal” e “de louco todo mundo tem um pouco” acho que não são coisas tão esquisitas assim não.

Sexta série


Estudei em escola de bairro até os onze anos, depois disso, minha mãe me matriculou numa escola mais longe de casa e que tinha até o ensino médio. Conheci pessoas bem diferentes das que eu estava acostumada. Na sexta série, conheci a turma de Luciano. A turma dele estudava à noite, um pessoal mais velho, mas que toda tarde vinha jogar vôlei em frente ao colégio. Eu ficava o intervalo todo olhando eles pela janela da sala. Suas brincadeiras, o jeito dele conversarem entre si, a sua rebeldia com os diretores do colégio. Enfim um mundo bem diferente do meu. E acabei me apaixonando por ele.  Foi nessa época que quase repeti o ano. Essa mesma turminha se juntava para jogar bola, exatamente onde eu praticava Educação Física, as meninas ficavam na arquibancada torcendo e os meninos jogando futebol. Eu fugia das minhas aulas e ficava observando ele de longe. Eram os melhores momentos da semana, os dias da Educação Física. No final do ano acabei sem nota alguma no boletim, e fazendo o monte de trabalho para não reprovar a sexta série e ainda por cima fiquei sabendo que ele tinha namorada, uma morena bem bonita do segundo ano. Fiquei bem triste, mas as lembranças que ficaram foram boas: aquele ano que fugia das aulas para observar aquele carinha.

Infância

Quando eu era pequena, dos meus dez aos quinze anos, meus irmãos e eu vivíamos trancados dentro de casa, meu pai achava “que lugar de menino era dentro de casa e se não obedecesse ficava de castigo de joelhos no feijão”. Então todo início de noite a turminha da rua que chegava do colégio se juntava em frente a minha casa. Brincavam de barra bandeira, pique esconde, estátua, elástico, chutar o pote, todas essas brincadeiras de criança. Meus irmãos e eu ficávamos só olhando e ansiosos esperando meu pai se aprontar e ir para a igreja, para o ensaio do coral. Ele nos deixava trancados, com o portão no cadeado e tudo, mas estrategicamente, tínhamos cerrado as vigas do portão e quando ele saia a gente levantava as vigas e saia para brincar. Divertíamos-nos a valer, mas todo mundo sabia que se ele pegasse a gente na rua quando chegasse era castigo na certa, então ficava todo mundo vigiando. Quando meu pai apontava no fim da ladeira a turma gritava: “corre, corre teu pai já vem!” Era uma correria só. Quando ele chegava em casa tava todo mundo, os cinco irmãos, fingindo que dormia, todos suados enrolados no lençol. Minha mãe ficava com raiva, por causa dos lençóis, mas só não reclamava porque sabia que se falasse alguma coisa íamos todos para o castigo. Parece ruim, mas não era não, se eu bem soubesse teria aproveitado mais aquele tempo de criança, quando a gente cresce e as responsabilidades vêm, a gente fica mais comedidos, mais chato. Enfim, tempos bons aqueles.

sábado, 2 de outubro de 2010

Texto de Clarice Lispector

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!
(Imagem:  http://www.cidadaodomundo.org)

CANÇÃO DO AMOR IMPREVISTO, Mario Quintana

Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita...
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viesse pousar os passarinhos.

(Um adendo: Então, não sei se por medo ou por engano me afaste e menti)


(Imagem: http://jarbas.wordpress.com)

Meu amor por Gravatá




Muitos lugares que já visitei, ou que quero visitar me conquistaram bela beleza, pelos lugares que tem para se divertir ou pelas pessoas que tenho para visitar. Gravatá não, ela me seduziu por sei lá o que. Gostei de gravatá desde que pisei pela primeira vez lá, em 2004, o lugar é lindo, mas parecia que não era isso que estava chamando atenção. Era como se eu pertencesse àquele lugar, se é que isso é possível. Gosto muito da viagem de ida, das casas, de tomar vinho ou apenas apreciar a paisagem no cruzeiro, do friozinho e principalmente das flores. Tenho lembranças ótimas de lá e mesmo que passem anos, se tiver que escolher um lugar no mundo, vou escolher Gravatá.

Esqueceram de mim

Sempre que conto está história minha irmã costuma dizer que eu já nasci doida (- como uma criança reage assim numa situação dessas, qualquer outra só iria chorar! Afirma ela). Acho que tinha entre sete e oito anos, minha tia tinha chegado de férias de São Paulo e fomos todos passear no shopping (coisa de pobre mesmo né?! Porque quem tem dinheiro, que eu saiba, vai fazer compras, pobre vai passear). Fotos, sorvetes, muitos risos (porque quem ri é minha família, vixe!), hora de ir para casa. Espera o ônibus, o caminho de casa e quando já estavam deitados, de pernas para cima no sofá surge à pergunta: cadê Márcia? Esquecemos no shopping!!
O detalhe é que quando percebi, com sete anos, que estava perdida me direcionei ao guarda mais próximo: - moço minha família se perdeu de mim, o senhor poderia anunciar pelo alto falante para Suely Pereira da Silva que eu estou aqui em cima. Tipo assim, alôôô! Num era nessa hora que eu deveria está chorando? O guarda anunciou, mas como naquela hora minha família já não estava lá, ninguém apareceu. Encontraram-me umas quatro horas depois na parte administrativa do shopping, com as perninhas balançado, minha mãe fala disso até hoje. Enfim, essas coisas só comigo mesmo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Charge de Maurício Ricardo 02


o filme de Lula
http://charges.uol.com.br/2010/09/27/cotidiano-filme-inspirador/

Charge de Maurício ricardo


Plínio Arruda Sampaio

http://charges.uol.com.br/2010/09/30/cotidiano-grandes-debates-da-historia/

Ah! O amor 02


“O amor é o descanso da loucura.” Guimarães Rosa
“Com o amor vivi mais loucura que descanso, mas o aprendizado tem que começar em algum ponto.” Cristina Guerra
Frases interessante, curtas, mas dizem mais coisas do que de fato querem dizer. Tirando por mim, também acho que existe um pouco de loucura no amor. A necessidade do outro, que antes era apenas um amigo e nem queríamos ver tanto assim. O frio na barriga, o medo de perder, as loucuras ditas, as loucuras feitas. Os micos, o próprio amor. Ruim é quando acaba. Pra quem vai, cartas com tanto significado, ficam sem nexo. Para quem fica, “como aquelas palavras tão sinceras perderam o significado?” de início, até achamos “o amor não existe mais para mim!” Melodramático, mas é o que se sente. Depois passa, aliás, tudo passa com o tempo. E o que fica é o aprendizado (para quem é inteligente e consegue extrair coisas boas e aprendizado das coisas difíceis). E por passe de mágica a gente se esquece e... Acontece de novo, como dizem os americanos: caímos de amores. A pesar de tudo, que bom que existe esse tipo de loucura.

A lista


Conheci Liverton quando tinha dezesseis anos. Nunca tinha tido namorado e parte isso eu devia ao fato do meu pai ser muito “cuidadoso”. Interessamos-nos um pelo outro e ficamos algumas vezes, percebendo o jeito do meu pai, Liverton foi logo conversar com ele, para namorar em casa (coisa antiga né? Bom, mas na minha família sempre foi assim). Marcamos o dia, minha mãe fez um jantar, e chegou o momento. Cara, meu pai tinha se preparado durante o dia inteiro para aquele momento. Sua filhinha iria arrumar um namorado? Como assim? Ele preparou, numa folha de ofício uma lista com mais de vinte questões que incluía perguntas como: quais são suas intenções com minha filha? e até: você por ventura gasta seu dinheiro com mulheres da vida? Meus quatro irmãos e eu todos no quarto, escondidos atrás da cortina escutando a conversa e se acabando de ri. Meu pai contou todas as minhas desobediências (acho que ele tava tentando fazer ele fugir. E não sei como ele não fugiu mesmo). A cena era a lá O pai da noiva. Muito engraçado. Mas só duramos uns três meses, fico pensando: será que meu pai teve alguma coisa a ver com isso? (rsrsrs).

Eu sorri


Glauco. Doçura. Out./1987. p. 80.

O que tenho lido


CHAVES DA VAGUIDÃO
Era um bar da moda naquele tempo em Copacabana e eu tomava
meu uísque em companhia de uma amiga. O garçom que nos servia,
meu velho conhecido, a horas tantas se aproximou:
— Não leve a mal eu sair agora, que está na minha hora, mas o
meu colega ali continuará atendendo o senhor.
Ele se afastou, e eu voltei ao meu estado de vaguidão habitual.
Alguns minutos mais tarde, vejo diante de mim alguém que me
cumprimentava cerimoniosamente, com um movimento de cabeça:
— Boa noite, Dr. Sabino.
Era um senhor careca, de óculos, num terno preto de corte meio
antigo. Sua fisionomia me era familiar, e embora não o identificasse
assim à primeira vista, vi logo que devia se tratar de algum advogado ou
mesmo desembargador de minhas relações, do meu tempo de escrivão.
Naturalmente disfarcei como pude o fato de não estar me lembrando de
seu nome, e me ergui, estendendo-lhe a mão:
— Boa noite, como vai o senhor? Há quanto tempo! Não quer
sentar-se um pouco?
Ele vacilou um instante, mas impelido pelo calor de minha
acolhida, acabou aceitando: sentou-se meio constrangido na ponta da
cadeira e ali ficou, erecto, como se fosse erguer-se de um momento para
outro. Ao observá-lo assim de perto, de repente deixei cair o queixo: sai
dessa agora, Dr. Sabino! Minha amiga ali ao lado, também boquiaberta,
devia estar achando que eu ficara maluco.
Pois o meu desembargador não era outro senão o próprio garçom
— e meu velho conhecido! — que nos servira durante toda a noite e que
havia apenas trocado de roupa para sair. (...)
Fernando Sabino. A falta que ela me faz. 4. ed.
Rio de Janeiro, Record, 1980. p. 143-4. [pg. 67]

O NARIZ, Luiz Fernando Veríssimo


Era um dentista, respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos
anos, uma filha quase na faculdade. Um homem sério, sóbrio, sem
opiniões surpreendentes mas uma sólida reputação como profissional e
cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz postiço. Passado o
susto, a mulher e a filha sorriram com fingida tolerância. Era um daqueles
narizes de borracha com óculos de aros pretos, sobrancelhas e bigodes
que fazem a pessoa ficar parecida com o Groucho Marx. Mas o nosso
dentista não estava imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa do
almoço — sempre almoçava em casa — com a retidão costumeira,
quieto e algo distraído. Mas com um nariz postiço.
— O que é isso? — perguntou a mulher depois da salada, sorrindo
menos.
— Isto o quê?
— Esse nariz.
— Ah. Vi numa vitrina, entrei e comprei.
— Logo você, papai...
Depois do almoço, ele foi recostar-se no sofá da sala, como fazia
todos os dias. A mulher impacientou-se.
— Tire esse negócio.
— Por quê?
— Brincadeira tem hora.
— Mas isto não é brincadeira.
Sesteou com o nariz de borracha para o alto. Depois de meia hora,
levantou-se e dirigiu-se para a porta. A mulher o interpelou.
— Aonde é que você vai?
— Como, aonde é que eu vou? Vou voltar para o consultório.
— Mas com esse nariz?
— Eu não compreendo você — disse ele, olhando-a com censura
através dos aros sem lentes. — Se fosse uma gravata nova você não
diria nada. Só porque é um nariz...
— Pense nos vizinhos. Pense nos clientes.
Os clientes, realmente, não compreenderam o nariz de borracha.
Deram risadas (“Logo o senhor, doutor.”), fizeram perguntas, mas
terminaram a consulta intrigados e saíram do consultório com dúvidas.
— Ele enlouqueceu?
— Não sei — respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há
15 anos. — Nunca vi ele assim.
Naquela noite ele tomou seu chuveiro, como fazia sempre antes de
dormir. Depois vestiu o pijama e o nariz postiço e foi se deitar.
— Você vai usar esse nariz na cama? — perguntou a mulher.
— Vou. Aliás, não vou mais tirar este nariz.
— Mas, por quê?
— Por que não?
Dormiu logo. A mulher passou a metade da noite olhando para o
nariz de borracha. De madrugada começou a chorar baixinho. Ele
enlouquecera. Era isto. Tudo estava acabado. Uma carreira brilhante,
uma reputação, um nome, uma família perfeita, tudo trocado por um nariz
postiço.
— Papai...
— Sim, minha filha.
— Podemos conversar?
— Claro que podemos.
— É sobre esse seu nariz...
— O meu nariz, outra vez? Mas vocês só pensam nisso?
— Papai, como é que nós não vamos pensar? De uma hora para
outra um homem como você resolve andar de nariz postiço e não quer
que ninguém note?
— O nariz é meu e vou continuar a usar.
— Mas, por quê, papai? Você não se dá conta de que se
transformou no palhaço do prédio? Eu não posso mais encarar os
vizinhos, de vergonha. A mamãe não tem mais vida social.
— Não tem porque não quer...
— Como é que ela vai sair na rua com um homem de nariz
postiço?
— Mas não sou “um homem”. Sou eu. O marido dela. O seu pai.
Continuo o mesmo homem. Um nariz de borracha não faz nenhuma
diferença.
— Se não faz nenhuma diferença, então por que usar?
— Se não faz diferença, por que não usar?
— Mas, mas...
— Minha filha...
— Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai!
A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu todos os clientes. A
recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos, pediu demissão. Não
sabia o que esperar de um homem que usava nariz postiço. Evitava
aproximar-se dele. Mandou o pedido de demissão pelo correio. Os
amigos mais chegados, numa última tentativa de salvar sua reputação, o
convenceram a consultar um psiquiatra.
— Você vai concordar — disse o psiquiatra, depois de concluir que
não havia nada de errado com ele — que seu comportamento é um
pouco estranho...
— Estranho é o comportamento dos outros! — disse ele. — Eu
continuo o mesmo. Noventa e dois por cento do meu corpo continua o
que era antes. Não mudei a maneira de vestir, nem de pensar, nem de
me comportar. Continuo sendo um ótimo dentista, um bom marido, bom
pai, contribuinte, sócio do Fluminense, tudo como antes. Mas as pessoas
repudiam todo o resto por causa deste nariz. Um simples nariz de
borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?
— É... — disse o psiquiatra. — Talvez você tenha razão...
O que é que você acha, leitor? Ele tem razão? Seja como for, não
se entregou. Continua a usar nariz postiço. Porque agora não é mais
uma questão de nariz. Agora é uma questão de princípios.
Luis Fernando Veríssimo. O analista de Bagé.
28. ed. Porto Alegre, L&PM, 1981. p. 39-42.

O amor, para alguns, envelhece


Tenha estado muito interessada em Clarice Lispector. A maneira, o que e como ela escreve. Esses dias, lendo um conto sobre galinhas, Uma História de Tanto Amor, achei muito interessante a maneira simples que ela consegue falar de como o amor que sentimos vai mudando com o passar dos anos. O primeiro amor, sentido de uma maneira completa, entregue, total. Com as desilusões amorosas e o passar dos anos o amor fica tímido, medroso, é medo de sofrer. Isso fica a mostra quando ela diz “dessa vez era um amor mais realista e não romântico; era o amor de quem já sofreu por amor”. Acredito que a gente não deveria guardar as coisas assim não, deixar de viver um amor completo porque outro anterior me fez sofrer. Deixar o exagero de lado, as loucuras e ficar comedido. Não! É chato! Eu, às vezes, demoro a esquecer mais esqueço principalmente porque é muito bom amar completamente sem amarras do passado e mesmo que elas existam, o bom é pensar nelas com carinho, esquecendo as mágoas.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Solidão, Legião Urbana


Marco foi embora e não volta mais
E o trem das sete e meia sem ele
é um coração de metal sem a sua alma
No frio da cinza manhã da cidade

Na escola o banco está vazio, Marco está dentro de mim
É doce o seu respiro entre os meus pensamentos
Distâncias enormes parecem nos dividir
Mas dentro de mim o coração bate forte

Quem sabe você pensa em mim
Se com os seus pais não fala mais
Se você se esconde como eu,
se foge aos olhares e aí está
Trancafiado no quarto sem querer comer
Aperta forte o travesseiro contra si
E chora, sem saber quantos outros males
...te fará
A Solidão

Marco, tenho uma foto sua no meu diário
Você tem os olhos de um garoto meio tímido
Aperto-a forte contra o meu coração e sinto que você está
Entre os deveres de Inglês e Matemática

Teu pai e seus conselhos, que coisa chata
Ele e o seu trabalho te levaram embora
Com certeza ele nunca perguntou a sua opinião
Só disse "Um dia você me entenderá!"

Quem sabe você pensa em mim
Se conversará com seus amigos para não sofrer mais por mim, mas você sabe que não é fácil
À escola não posso ir mais, e as tardes sem você
É inútil estudar, todas as idéias vão em sua direção

Não é possível
Separar
A vida de nós dois
Te peço que me espere
meu amor
Mas não sei te iludir...

A solidão entre nós, dentro de mim este silêncio
É a preocupação de ter que viver a vida sem você
Peço que me espere porque
Não posso ficar sem você
Não é possível separar as nossas histórias

A solidão entre nós, dentro de mim este silêncio
É a preocupação de ter que viver a vida sem você
Peço que me espere porque
Não posso ficar sem você
Não é possível separar as nossas histórias
A Solidão...

Coisa de doido é essa facul


Em 2002 decidi que queria fazer o Curso de Ciências Biológicas na UFPE. Tudo certo, mas também adorava Física, e agora? Pensei: faço Biologia quando terminar vou para Física, acho que não vai ser tão difícil assim (anraaan!). Terminei Biológicas, o tempo passou e em 2009 consegui passar na UFRPE e comecei o curso. Cara! Tô ralando como uma doida. Cálculo é doidice, Física é doidice, mas eu gosto e acho que não vou desistir não... Pelo menos por enquanto.

Einstein e a religião



"O espírito científico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica. Ela se distingue da crença das multidões ingênuas que consideram Deus um Ser de quem esperam benignidade e do qual temem o castigo - uma espécie de sentimento exaltado da mesma natureza que os laços do filho com o pai, um ser com quem também estabelecem relações pessoais, por respeitosas que sejam. Mas o sábio, bem convencido, da lei de causalidade de qualquer acontecimento, decifra o futuro e o passado submetidos às mesmas regras de necessidade e determinismo. A moral não lhe suscita problemas com os deuses, mas simplesmente com os homens. Sua religiosidade consiste em espantar-se, em extasiar-se diante da harmonia das leis da natureza, revelando uma inteligência tão superior que todos os pensamentos humanos e todo seu engenho não podem desvendar, diante dela, a não ser seu nada irrisório. Este sentimento desenvolve a regra dominante de sua vida, de sua coragem, na medida em que supera a servidão dos desejos egoístas. Indubitavelmente, este sentimento se compara àquele que animou os espíritos criadores religiosos em todos os tempos." Albert Einstein
São palavras de um sábio, um dos maiores de todos os tempos para mim, concordo com quase todas as teorias dele que já tive acesso, mas não consigo concordar com estas idéias. Não entendo como um homem que acreditava na Física Quântica, acreditava em partículas que só podem ter a chance de ser provadas a sua existência agora com os aceleradores de partículas (mais de meio século depois da sua morte), acreditava apenas na beleza das obras e desacreditava no Criador. Entendo que o aprendizado das ciências e a pesquisa científica cegam um pouco, nos deixando até ateus, entendo, por que já passei por essa fase. Mas Deus se faz presente em tantas coisas e há essa dificuldade em aceitar a existência desse ser tão vivo quanto meu Deus. Aceito essa incredulidade, dele e de tantas pessoas que conheço. E aceito também a crença dos outros em outros deuses, não imponho minha crença a ninguém, me acho imatura demais para conseguir explicar o que sinto, por que o que sinto, apenas sinto. Deus existe, ponto. Mas mesmo assim acho interessante a maneira que ele fala de Deus, como “religiosidade cósmica”. É até engraçado que um homem tão inteligente prefere acreditar numa RELIGIOSIDADE CÓSMICA que num Deus mais vivo.
Concordo quando ele diz: “O espírito científico, fortemente armado com seu método...” o espírito científico não está apenas armado com seus métodos, mas também com a descrença naquilo que não pode ser provado por cálculos matemáticos. Mas não concordo quando ele diz: “se distingue da crença das multidões ingênuas que consideram Deus um Ser de quem esperam benignidade” por que não me considero ingênua, me considero até inteligente demais e ainda assim acredito, com muitos questionamentos (claro), já que me foi dada uma mente pensante.
Mas acredito que ele acreditava sim, do seu jeito, mas acreditava:
“Eu quero saber como Deus criou este mundo. Não estou interessado neste ou naquele fenômeno, no espectro deste ou daquele elemento. Eu quero conhecer os pensamentos Dele, o resto são detalhes.” Albert Einstein
Com essas palavras, só estava dizendo acreditar nesse Deus, criticando esse conceito de Einstein sobre Deus, e dizendo que a pesar das suas inclinações religiosas, ainda dou muito crédito as conceitos científicos dele, a pesar das muitas críticas sofridas com as novas descobertas na área da Física Quântica.

O FIM (março de 2009)


Diante de todas as dificuldades que passou durante pelo menos os últimos dez anos, para aquela, não encontrava uma solução possível, pelo menos para se enganar achando que a felicidade viria. Antes tudo era possível, olhar a realidade dura e se enganar... fui até o quarto, um copo de água na mão, encostei na porta. Olhei em volta, aquele quarto, onde passei momentos maravilhosos, agora não representava nada. Apenas as lembranças que queria esquecer e ao mesmo tempo arrumava subterfúgios para não se esquecer de nada. Onde ele está agora? Eu não sabia que estava acabando, então como poderia ter feito alguma coisa para não deixar acabar assim. “Não, não faça isso! você não é culpada.” Minha mente repetia para mim o tempo todo. A única solução plausível era deixar de existir. Será que tenho essa coragem? Não, não tenho. Os dias correm tão lentamente, parece que o mundo corre em câmera lenta quando não estás por perto. Será que um dia vou rir disso tudo, ou ao menos esquecer? Não me vejo amando outra pessoa como... Prefiro não pensar, mas é a única coisa que consigo fazer, pensar. Deito-me nesse chão frio, as lágrimas rolam involuntariamente, um cansaço bate, nem sei como consegui trabalhar hoje, o sono chega igualzinho como chega àquelas crianças que adormecem chorando porque a mãe não deixou ir brincar no vizinho. Enfim adormeço e sonho sonhos lindos de quando estavas aqui, até consigo sorrir. Mas o medo agora é acordar e voltar para a realidade da sua ausência.

Solitude


A Solitude pode ser vista por vários ângulos. Podemos nos sentir bastante frágil ou encontrar nela forças para prosseguir, seu ângulo vai depender de como você encara a vida. Tenho aprendido a conversar com Deus nesses meus momentos a sós. Tenho lido Mateus e percebido que até Jesus Cristo se retira para o monte e fica a sós com o Senhor. Afasto-me de Deus por muitas vezes, mas Deus é tão misericordioso que ao me aproximar Dele não sinto que ele também se afastou de mim, pelo contrário, Ele clama pela minha reaproximação. Óbvio que Deus quer que vivamos em comunhão com os outros, Ele fez o homem para o relacionamento, mas precisamos ficar sozinhos com Ele vez em quando para escutá-lo falar. O corre-corre, a agitação do mundo, o trabalho, as pessoas tem nos afastado de Deus e é necessária uma aproximação para uma boa conversa, orações e aprendizado. Enfim, estar sozinha com Ele tem feito muito bem para o meu coração e para minha alma.

O que é bonito, Lenine


O que é bonito
É o que persegue o infinito
Mas eu não sou
Eu não sou, não...
Eu gosto é do inacabado
O imperfeito, o estragado que dançou
O que dançou...
Eu quero mais erosão
Menos granito
Namorar o zero e o não
Escrever tudo o que desprezo
E desprezar tudo o que acredito
Eu não quero a gravação, não
Eu quero o grito
Que a gente vai, a gente vai
E fica a obra
Mas eu persigo o que falta
Não o que sobra
Eu quero tudo
Que dá e passa
Quero tudo que se despe
Se despede e despedaça
O que é bonito...

Coincidências do Amor


Muitas vezes, por medo, ou por qualquer outra coisa, deixamos o amor escapar. Ele está ali diante dos nossos olhos, mas deixamos ir porque é inseguro, vai dar trabalho, ou até é demais para mim. No filme Coincidências do Amor, aliás, um filme muito gostoso de assistir, encontrei exatamente isso. Um homem que é apaixonado por sua melhor amiga a treze anos, mas por medo não faz com que as coisa aconteçam. Lógico que no enredo existem outras coisas que deixam o filme mais engraçado, mas no meu filtro o que ficou de mensagem é que perdemos tempo com os “se” da vida, tipo: e se não der certo, se eu levar um fora, se não conseguir falar, se bancar o idiota. Pior do que passar treze anos da vida, que já é curta, apaixonado e sem dizer nada, não pode ficar. O filme é gostoso, é engraçado e é comédia romântica, que eu adoooooro.

A árvore



O que pode ser melhor do que um balanço e um pé de árvore? Para muitas situações, tantas coisas podem ser melhores, mas para o descanso da alma, pra mim basta. Esses dias fui para o acampamento paraíso, o lugar é lindo. Muitas árvores, cada flor mais linda que a outra, bicho na mata, que fica ao lado do acampamento, pessoas engraçadas (adoro pessoas bem humoradas). Perfeito. Muitos jogos, brincadeiras, mas como de costume, fui atrás de um bom lugar para pensar, pensar em tudo, tudo mesmo, desde as roupas que deixei na máquina de lavar a dois dias, até como será que consigo escutar a voz de Deus, como vou ficar sem ver minha irmã ou até que perfeição é o processo de polinização (tudo bem, isso já é demais, mas enfim eu gosto). Não fico assim o dia todo, penso, interajo com os outros, penso... Tudo isso pra mim é normal, faz parte das minhas características humanas. O engraçado nisso é que para as outras pessoas me ver sozinha, ali, debaixo daquela árvore era solitário (bom, pra mim solitude não é ruim, quando é de vez em quando), parecia que eu estava deprimida aos olhos deles. Todos preocupados, uns me chamando para a piscina, outros para uma conversa. E eu só estava meditando. E acho que de tudo que foi muito bom naquele fim de semana, àquela árvore foi à melhor delas.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

CARPE DIEM


Perdemos o tempo presente ocupando nossa mente com o tempo futuro e ainda sofremos com a insegurança do que está por vir. De acordo com Horácio, filósofo grego da Idade Antiga, o tempo passa rápido e esse tempo a gente perde se preocupando com o amanhã. O bom da vida é apreciar e viver o hoje, porque o amanhã pertence ao futuro e não está sob o nosso domínio. Se o ser humano pudesse ser livre da ansiedade, da vontade de ter o outro, do medo da perda e dos padrões pré-estabelecidos com toda certeza seria mais feliz.
Algumas coisas realmente têm quer ser planejadas: um check up médico, uma compra de um imóvel, um curso superior. Mas outras? Definitivamente não precisam de planos: “semana que vem vou visitar aquela amiga que só vi no ano passado.” Cara, e se ela morrer? E se você morrer? Se você tem tempo, então vai hoje! Ei! Carpe Diem! Aproveite o momento! Ele é único sabia? Não deixe de testamento apenas planejamentos, dinheiro guardado no banco e sonhos não alcançados. Deixe para suas descendentes muitas histórias engraçadas, muitos micos vividos, muitas histórias de amor e também um monte de dor de cotovelo. Aproveite o Hoje para rir, o bom humor é um excelente remédio para tudo. Aproveite o dia para elogiar e ajudar alguém. Aproveite o dia para cuidar de você (corpo e espírito). Aproveite o dia para amar. E ame com a maior intensidade possível. Seja igual ao poeta, exagerado, o amor e qualquer outra coisa não presta se for comedido, fica chato. Enfim aproveite o momento, ele é a única coisa que temos de verdade.

MATA ATLÂNTICA E CONSERVAÇÃO



Uma floresta colossal esperava os portugueses quando eles chegaram para colonizar a América do Sul. Diversificada, mas contínua, ela estendia-se do nordeste do Brasil até o atual estado do Rio Grande do Sul. Ao longo de todo o seu comprimento, essa vasta e densa floresta, a Mata Atlântica, penetrava para o interior até limites não muito bem conhecidos hoje – no sul, certamente além das fronteiras atuais da Argentina e do Paraguai (CÂMARA, 2005).
De acordo com a definição de Domínio da Mata Atlântica adotada pelo CONAMA e o Mapa da Vegetação do Brasil, publicado pelo IBGE em 1993, a floresta cobria originalmente uma área de 1.363.000km2, equivalente a 16% do território nacional. Ela abrangia, em parte ou no todo, 17 estados: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul. Em contraste, de acordo com os mais recentes dados publicados (MMA, 2000a), a área remanescente em 1995 foi estimada em 98.878km2, ou apenas 7,25% da cobertura original (CÂMARA, 2005).
A destruição da Mata Atlântica começou com a chegada dos europeus em solo brasileiros. A área onde está inserida a Mata Atlântica foi uma área que sofreu durante todos os ciclos econômicos brasileiro. Teve inicio com a exploração exacerbada de pau-brasil (Caesalpinia echinata), passando pela corrida pelo ouro e pedras preciosas, plantio de café, pecuária e agroindústria. Mas mesmo com tantos impactos ocorridos ao longo de cinco séculos, a destruição da Floresta Atlântica Brasileira nunca sofreu tanto como durante o último século. A população brasileira tem crescido numa taxa maior que a taxa mundial e esse crescimento populacional trás consigo a construção de estradas, ferrovias, hidrovias e portos, com o objetivo de estimular o crescimento econômico e principalmente explorar novos recursos naturais em novas áreas. Dessa forma, o processo de urbanização, conseqüência do crescimento da população humana, tem acarretado impactos ao meio ambiente de uma maneira assustadora. A demografia e a ocupação do território, somados a outros fatores, implicam na ineficiência da conservação, levando à perda da biodiversidade. O aumento da população humana agrava a pobreza e a migração, levando à dissolução dos mecanismos sociais responsáveis pelo manejo adequado dos recursos naturais.
Durante os últimos 200 anos tem ocorrido um enorme crescimento demográfico na mata Atlântica e hoje ela abriga cerca de 70% da população brasileira. O aumento do tamanho da população ocorrido nesse período tem levado à destruição da mata, em conseqüência da expansão urbana descontrolada, a industrialização e as migrações. Existe a necessidade de mudança no paradigma nacional no que se trata de conservação da biodiversidade. O governo brasileiro ainda está engatinhando quando o assunto é preservação, programas políticos são necessários sim, mas se não houver contratação de pessoal para uma fiscalização eficaz, já que a quantidade atual é insignificante, e uma ampliação no investimento nas áreas de pesquisas relacionadas, já que as nossas pesquisas são financiadas por ONGs ou entidades estrangeiras, os esforços não atingirão seus objetivos.

A SOLIDÃO É UMA AMIGA TAGARELA

Conheço pessoas que morrem de medo de ficar sozinhas. Relacionam-se com amigos que não são tão amigos, homens que não são tão Homens, apenas para estarem rodeadas de pessoas e não escutar o eco da solidão. Por que a solidão fala, e fala muito, fala até o que fingimos não saber. É na solidão que conseguimos enxergar coisas em nós mesmos que o corre-corre e o barulho da vida não nos deixam enxergar.
Aproveito a solidão para aprender sobre a vida e sobre mim mesmo, fazer autocrítica, xingar pessoas que não tenho coragem, entender minhas angústias e medos. Tudo que escuto nesses momentos são palavras honestas e sem freios, que amigos não falam. Não entendo como as pessoas querem fugir disso e acho que todos deveriam ter momentos assim, de aprendizado e reflexões. A vida pede parada de vez em quando e temos o direito e o dever de lhe conceder isso. Penso muito nisso quando escuto Lenine e ele diz: “e quando tudo acelera e pede pressa eu me recuso, faço hora, vou na valsa, a vida não para...”.
Na minha solidão eu escrevo, eu fantasio, escuto música, vôo bem alto, mas aterrizo e escuto a mim mesma. Não vou mentir, há coisas difíceis de escutar, principalmente quando vão de encontro com as coisas que queremos, muitas vezes até escutamos o que fazer, mas fazemos o contrário porque não concordamos. Entretanto quando paramos e escutamos, aprendemos e crescemos um pouco. Por isso tudo, não tenho medo da solidão e até gosto de vez em quando e acabo me identificando com palavras de Clarice Lispector quando diz: “Minha força está na minha solidão, não tenho medo das chuvas tempestivas, nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.” E de Adriana Lisboa: “Eu também sou eu apenas, eu só e mais nada nem ninguém.”. Por isso não preciso está com alguém necessariamente para me sentir bem. É óbvio que é bom ter alguém por perto, já que o homem é um ser social, mas não me maltrata ser sozinha ou estar sozinha temporariamente, até me melhora.

O prestanista



Existem pessoas fortes, que nascem com tanta determinação que servem para serem admiradas. Meu pai é uma dessas pessoas. A maioria das lembranças que tenho dele, ao longo da minha vida, é ele trabalhando. Meu pai vem de uma família pobre e não teve uma infância muito boa. Aos doze anos de idade meu avô o deixou numa casa de um conhecido para que com seu trabalho na mesma ele tivesse direito a comida e roupas. Não entendo porque meu avô fez isso, mas fez. Meu pai, seu Brasil, como a maioria das pessoas o chama, poderia ter crescido reclamando da vida, lamentando-se por conta da vida que teve, mas não, é um dos homens mais paciente que já conheci. A primeira imagem que tenho dele, é do momento quando ele se organizava para sair para o trabalho. Como ele não completou seus estudos, era prestanistas (saía de porta em porta oferecendo todo tipo de coisa para as pessoas pagarem em várias prestações). lembro dele nos dias de chuva, meu pai acordava sedo, ia à padaria comprava pão, leite, manteiga, queijo quando o dinheiro dava. Ligava o fogo, como lá em casa não tinha muitas panelas, a vida era ainda muito difícil, ele assava o pão nas costas de uma tampa de panela, acordava a gente (os cinco filhos), dava café da manhã e começava a se organizar para ir trabalhar.
Seu Brasil colocava uma calça de brim já gasta pelo tempo de uso e pelo sol escaldante durante o dia de serviço, dobrava a calça até a metade da canela, para não molhar com a chuva, olhava em seus bloquinhos de anotações os bairros que tinha cobrança, os locais que tinha que fazer entrega. Lembro bem nitidamente que ele amarrava uns lençóis nos outros, juntamente a panelas, bacias, baldes e com um barbante juntava todo aquele material para venda e colocava nas costas como se fosse uma bolsa, eu imaginava que aquilo pesasse bastante. Passava o dia inteiro na rua. Ele andava tanto, pra cima e para baixo, que suas sandálias sempre viviam muito gastas, engraçado que era mais gasta de um lado do pé, igualzinha as minhas de hoje em dia. A vontade que eu tinha era crescer e arrumar um emprego que pagasse bem para que ele pudesse parar de trabalhar e também para comprar um fusquinha novinho para ele. Ele adorava fusquinha, igualzinho ao meu avô. Pensando nisso acabei de lembrar que minha mão brigava com ele porque mesmo com o pouco dinheiro que tinha ainda resolvia comprar UM CARRO, coitado! O máximo que ele comprava era um fusquinha todo quebrado por uns mil e oitocentos reais, ajeitava ele todinho e trocava por outro melhor (um chevete verde da década de setenta que soltava uma fumaça preta que manchava toda a parede da frente da casa, um melhor!). Mas tudo bem porque era a sua felicidade. Nos domingos de manhã, quando não estava trabalhando, estava debaixo do carro velho ajeitando, todo feliz. Uma vez acordei umas sete da manhã com ele chamando a gente para olhar o carro novo, que ele tinha trocado no Chevete, um Opala preto gigantesco que nem cabia dentro da garagem e que ainda fazia um barulho enorme quando ele tentava dar a primeira partida. Primeira né? Porque o carro só saía depois da quinta tentativa mais ou menos.
A pesar de tudo educou todos os cinco filhos debaixo de rédea curta, como ele costumava dizer, e a gente dizia que parecia um quartel. Mas educou bem, e isso eu tenho que agradecer a ele. Todos os filhos terminaram o segundo grau, coisa que ele só terminou aos quarenta e sete anos e minha mão só têm o primário. Cláudia, a irmã mais velha, fez faculdade de Geografia e está casada morando no Rio de Janeiro. Eu sou funcionária pública, formada em Biologia e atualmente cursando Física, Paulo mora na Bélgica e está para abrir um restaurante em Bruxelas, Marcos é professor de música no Rio e Marta, a mais nova, está cursando Matemática. Cara pra quem foi abandonado com doze anos e teve uma vida difícil e de muitas privações, acho ele um herói e se alguém me perguntar quem é meu ídolo, com toda certeza vou responder que é o meu pai, por todas as noites que ele acordava com meu choro, me dava leite e só dormia quando eu já tinha dormido. Pelos três reais que ele tirava todo dia do seu suor diário para eu almoçar na faculdade, pelas broncas, pelas surras, pelos castigos de joelho no feijão, pela sua presença ausente, que só entendo hoje. Gostaria até de ter coragem de dizer cara a cara: pai te amo, mas infelizmente não temos essa proximidade. Enfim é um homem admirável.

domingo, 5 de setembro de 2010

Meu Mundo É O Barro, O Rappa

Moço, peço licença
Eu sou novo aqui
Não tenho trabalho, nem passe, eu sou novo aqui
Não tenho trabalho, nem classe, eu sou novo aqui
Eu tenho fé
Que um dia vai ouvir falar de um cara que era só um Zé
Não é noticiário de jornal, não é
Não é noticiário de jornal, não é
Sou quase um cara
Não tenho cor, nem padrinho
Nasci no mundo, sou sozinho
Não tenho pressa, não tenho plano, não tenho dono
Tentei ser crente
Mas, meu cristo é diferente
A sombra dele é sem cruz, dele é sem cruz
No meio daquela luz, daquela luz
E eu voltei pro mundo aqui embaixo
Minha vida corre plana
Comecei errado, mas hoje eu tô ciente
Tô tentando se possível zerar do começo e repetir o play
Não me escoro em outro e nem cachaça
O que fiz tinha muita procedência
Eu me seguro em minha palavra
Em minha mão, em minha lavra

O ônibus



Olhando pela minha janela do tempo, vislumbro aquele dia. Não, não espera encontrar você ali, nem mesmo fazia questão que você não estivesse, apenas não me importava. Mas você estava e eu ti vi... não senti nada. Apenas a surpresa do seu interesse por mim. Não estava procurando ninguém, mas te encontrei. Sua roupa vermelha, armadura de ferro. Aproximou-se de mim, nem gostei... também nem desgostei. Gostei do seu beijo, do seu toque, seu olhar. Mas depois daquele ônibus meus pensamentos se perderam em você e não encontram o caminho de volta. Tardes se passam inteiras e minha mente permanece longe daqui. Não sei para onde foi meu desejo de liberdade, nem onde está o meu deseja da prisão, complexo como complexo é a sua presença.
Vejo em você todos os mundos que tenho aqui dentro, e consigo entender um pouco mais de mim olhando você. E olhar você, procurando entender, é fascinante. Engraçado, porque fascinante é o que vejo se já sabia que existia? Passo noites em claro ao teu lado, o sono não vem, o assunto não acaba, e espero o por do sol, e termino o vinho, e adormeço ao teu lado. E me despeço, não sinto saudade. Sinto saudade, uma saudade imensa, envergonhada por não se conter, insegura, será que você ainda está aí? Está incompleto, me coloca medo... Me desestabiliza, faz fugir toda minha racionalidade. Quem disse que sei lidar, quando é meu coração quem manda. Não sou inocente, fico inocente ao seu lado, maldito coração que me atrapalha.
Perdida nas letras, procurando encontrar explicações e conexões, talvez até procurando entender aquilo que não foi feito paro o entendimento, fico vagando fora daquilo que chamam de realidade. Esta, altamente subjetiva, foge de mim quando estou ao seu lado. Não entendo como me deixei envolver assim. Com que direito me deixas nesse estado? Noites se passam com a sua ausência, que parece mais uma pessoa me dizendo que você não gosta de mim, jogando na minha cara que você não liga, saudade que até tenta fazer um ciúme, sentimento que há tempos não conheço bate a porta. Mas a noite acaba dias cheios, esqueço o medo, a segurança chega e penso que consigo deixar rolar o inesperado, doce engano. Alguns dias passam e já estou na saudade novamente.

Silêncio , Clarice Lispector



É tão vasto o silêncio da noite na montanha. É tão despovoado. Tenta-se em vão trabalhar para não ouvi-lo, pensar depressa para disfarçá-lo. Ou inventar um programa, frágil ponto que mal nos liga ao subitamente improvável dia de amanhã. Silêncio tão grande que o desespero tem pudor. Os ouvidos se afiam, a cabeça inclina, o corpo todo escuta: nenhum rumor. Nenhum galo. Como estar ao alcance dessa profunda meditação do silêncio. Desse silêncio sem lembranças de palavras. Se és morte, como te alcançar.
É um silêncio que não dorme: é insone: imóvel mas insone; e sem fantasmas. É terrível - sem nenhum fantasma. Inútil querer povoá-lo com a possibilidade de uma porta que se abra rangendo, de uma cortina que se abra e diga alguma coisa. Ele é vazio e sem promessa. Se ao menos houvesse o vento. Vento é ira, ira é a vida. Ou neve. Que é muda mas deixa rastro - tudo embranquece, as crianças riem, os passos rangem e marcam. Há uma continuidade que é a vida. Mas este silêncio não deixa provas. Não se pode falar do silêncio como se fala da neve. Não se pode dizer a ninguém como se diria da neve: sentiu o silêncio desta noite? Quem ouviu não diz.
A noite desce com suas pequenas alegrias de quem acende lâmpadas com o cansaço que tanto justifica o dia. As crianças de Berna adormecem, fecham-se as últimas portas. As ruas brilham nas pedras do chão e brilham já vazias. E afinal apagam-se as luzes as mais distantes.
Mas este primeiro silêncio ainda não é o silêncio. Que se espere, pois as folhas das árvores ainda se ajeitarão melhor, algum passo tardio talvez se ouça com esperança pelas escadas.
Mas há um momento em que do corpo descansado se ergue o espírito atento, e da terra a lua alta. Então ele, o silêncio, aparece.
O coração bate ao reconhecê-lo.

UM DIA PENSEI SER POLÍTICO



Há alguns anos atrás, na minha fase revolucionária, com 15 ou 16 anos, pensei que ao crescer poderia entrar para a política. O Brasil estava numa fase razoável, mas completamente fora do que eu esperava para o meu país, afinal estávamos sob o governo de FHC. Mas me lembrava muito bem da fase que você ia à feira, já que via o sofrimento dos meus pais, e não conseguia comprar sequer o que tinha comprado no dia anterior por conta da super inflação, que jogava os preços para cima e para baixo o tempo todo. Se você encontrasse um quilo de charque, porque carne naqueles dias nem pensar, você gastava o dinheiro com ela porque no outro dia já não poderia levar mais. Foi naqueles anos que me deparei com a imagem de um homem barrigudo, barbudo, baixinho e nordestino. Apaixonei-me por ele e por toda sua filosofia. Comecei a ler textos sobre Karl Marx, Ernesto Che Guevara, Fidel Castro e outros mais, que influenciavam aquele homem. Seus discursos calorosos, toda sua história de retirante, metalúrgico e líder de sindicato numa época poucos anos depois de uma ditadura militar pesada. Ainda não podia votar, então esperava ansiosamente pelos dezoito anos. Durante todos aqueles anos pensava em o que estudar ou o que fazer para alcançar lugares altos dentro da política. Nessa minha busca me deparei com um livro de Pedro Collor de Melo, falando sobre aquele mundo que um dia eu queria chegar, se tudo aquilo que estava escrito era verdade, então não queria mais fazer parte daquilo, mas como boa revolucionária, EU IRIA ENFRENTAR E VENCER SEM SER CORROMPIDA PELO SISTEMA!!! Praticamente um grito de guerra parecido com aqueles que eu dava na luta estudantil. Os anos passaram e sonhos antigos foram esquecidos. Mas na minha primeira eleição, já tinha dezoito, e quem estava concorrendo novamente? Luiz Inácio Lula da Silva. Cara, fui para todos os comícios que ocorreram no Recife, em um deles quase fui esmagada pela multidão sedenta por mudanças urgentes. Fiz campanha voluntária, convenci dezenas de pessoas que conviviam comigo a votar naquele cidadão nordestino: ele vai saber justamente do que a gente precisa, afinal ele é igual à gente! Alegava, quando questionavam sobre sua falta de experiência. Votei nele no primeiro e segundo mandato. Não posso dizer que estou de todo decepcionada, ele fez sim muitas coisas pelo cidadão da classe pobre, logicamente que em alguns casos o tiro saiu pela culatra, o “Bolsa Família”, por exemplo. Mas por favor, não me critiquem, pois eu ainda gosto e admiro este cara barbudo. Foi muito difícil pra mim também ver suas atitudes sobre o líder do Irã, os presos políticos de Cuba, como também o seu deslocamento, meio que sorrateiro, mas que todos os olhos críticos estavam vendo, da esquerda para mais próximo do centro.
Estou eu aqui divagando sobre isso porque a um mês da eleição estou meio em crise petista, que é o que sou. Tenho pensado muito em Dilma e não consigo enxergar nela a líder que quero para os próximos oito anos. São nesses devaneios tolos que me lembrei do livro de Pedro Collor: será que todos que entram são corrompidos? Até os mais simples e cientes de toda realidade, já que sofreram na pele tudo que o pobre trabalhador passa todos os dias? Acredito que no final das contas vou ficar com o número 13, mas com um peso na consciência enorme, de que sei que estou colocando alguém no poder que não se parece de esquerda. Mas vou fazer isto. É melhor que colocar um José Serra da vida, tudo bem que alguém me falou um dia desses em Plínio Arruda Sampaio, até assisti sua entrevista no Jornal da Globo, mesmo sabendo que é um canal de direita, e até gostei de algumas propostas, mas não acredito em seu potencial como líder de um país com escala continental. E os outros candidatos, não! São aqueles tipos de políticos que jogam terra nos dois candidatos que estão liderando as pesquisas e no final, se agregam no segundo turno a quem desceu o pau durante o primeiro, não acredito nesses tipos de políticos. Enfim não serei eu que salvarei o país de toda essa politicagem falsa, já que o sonho revolucionário ficou no passado juntamente com minha fase que gritava: “VIVA FIDEL, FIDEL, FIDEL E CHE, REVOLUÇAÕ E CUBA LIVRE PRA VALER!”, ABAIXO O CAPITALISMO, VIVA O SOCIALISMO! Ou também: EXALTA! THIAGUINHO, LIIIIND... eita! esse não, acho que estou confundindo as linhas de pensamentos (rsrsrsrs). Mas ainda sonho com o fato de votar em um político que não vai mudar de lado com o passar do mandato, em quem eu possa confiar. Tudo bem, acho que esse sonho é utópico demais, mas já que sonho é sonho e a gente tem de graça, não custa continuar sonhando.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Meus filmes favoritos 1: Cartas para Julieta


Assistindo esses dias o filme cartas para Julieta, parei para pensar um pouco como a gente boicota nossos próprios sonhos e possíveis realizações. A gente troca momentos de felicidade por segurança e deixa de apreciar o belo em troca do corre corre do dia-a-dia em busca de mais dinheiro e bens materiais. Acredito que segurança, estabilidade e bem estar são coisas importantes, mas prefiro a simplicidade das coisas boas da vida e até a insegurança de um amor que seja verdadeiro. O filme conta a história de uma garota americana, Sophie (Amanda Seyfried), que vai passar a lua de mel antecipada com o noivo na Itália. O noivo com a vida completamente cheia de ocupações a deixa sozinha numa das cidades mais românticas do mundo para resolver seus problemas de negócios. Sozinha pela cidade Sophie descobre uma carta não respondida para Julieta deixada há 50 anos atrás, num dos pontos turísticos da cidade, por uma moça que por covardia abandona seu grande amor em troca da segurança e estabilidade que um casamento sem amor pode proporcionar. Essa senhora não foi de todo infeliz, mas viveu sem paixão, sem a emoção que o medo da perda do ser amado, o frio na barriga nos momentos que antecedem o encontro e a saudade gigante que apenas dois diazinhos um amor de verdade pode proporcionar. Ao receber a resposta de Sophie a senhora viaja para Itália e juntamente com Sophie e seu neto, que a acompanhou por achar aquilo tudo uma insanidade, começam um busca por esse grande amor de 50 anos atrás. Sophie acaba percebendo que ela prefere a paixão e o amor que acaba de encontrar no neto dessa senhora a ter a segurança de viver ao lado de um homem que não ama mais e a senhora, que já era viúva, reencontra seu grande amor do passado, também viúvo e vão viver a história de amor inacabada. Olhando assim pode parecer meu romântico demais, mas amei o filme, perfeito, tem partes que são românticas e outras engraçadas, é leve, mostra paisagens bonitas e possui roteiro muito bom, até chorei. Recomendo para quem não é cético e acredita no amor e gosta de cidade no campo, vinho e as incertezas da vida...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ah! O amor

A gente costuma idealizar tanto a pessoa por quem estamos apaixonada ou pela qual gostaríamos de se apaixonar que criamos espectativas que nunca serão superadas ou atingidas. O AMOR é estranho demais e não possui regras nem querer, podemos até escolher se queremos está com aquela pessoa, mas não se continuares ou não amando-a. passando pela net li esse texto de Jabor e acho qu ele chega até bem perto de uma boa explicação deste sentimento:

Crônica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Arnaldo Jabor

Meu mundo particular

Cada ser humano possui uma maneira de enxergar o mundo e sentir de maneira diferente uma decepção, uma perda ou uma alegria. Me disseram esses dias que enxergo minha vida e quero que ela funcione como um filme de comédia romomântica. Talvez a pessoa esteja certa, não sei. Só acredito e me reservo o direito de querer ver o melhor de tudo, ou de quase tudo, e querer que a vida seja romântica, cheia de simbolismos, trocas de juras quase eternas, por que não? As pessoas deixaram de viver as coisas com mais intensidade, de apreciar os pequenos momentos. São pessoas frias que não perdem mais tempo com um bom filme no escurinho do cinema, não param para apreciar a lua cheia, um bom vinho, um céu estrelado, não fazem um pedido a uma estrela cadente. Querem que tudo aconteça rápido demais: o sexo, o beijo, as conversas, a noite. Deixa que as coisas aconteçam por si só. Pode ser piegas, tudo bem. Mas prefiro ser diferente, fora de moda e ser criticada do que me juntar aos outros e viver frustada e sentir as coisas de acordo com os pradões dos outros. Prefiro o meu time, o meu momento. Me sinto bem aqui no meu mundo particular. Qual é o problema?