Eu tinha sete anos quando comecei a estudar. Primeiro dia de aula, hora do almoço, minha mão tinha feito peixe, adooooro peixe. Comi e muito satisfeita peguei minha bolsa, fui para a escola. Estava com um vestido verde musgo horrível, cabelos mais ou menos e com um sapato preto, que pelo amor de deus de tão feio. A sala tinha umas mesinhas com quatro cadeiras ao redor e me sentei em uma que tinha lugares desocupados. O detalhe é que tinha esquecido de lavar as mãos depois do almoço e tava com cheiro de peixe. Quem estava na minha mesa era Joel, ele tirou muita onda por causa do cheiro, fiquei tão triste e nervosa e comecei a cantar baixinho e ele tirou mais onda ainda da música que eu estava cantando, cara, criei um ódio mortal, se é que se sente ódio mortal com sete anos de idade. Primeiro dia de aula e tirarem onda comigo na frente de todo mundo, foi horrível. Mas ele é quem me aguardasse. Passei uma semana juntando a gilete que meu pai usava para fazer a barba, muito maquiavélico, muuuuito maquiavélico, e afirmo: nunca, mas nunca tentem isso em casa. Num certo dia de aula esperei a professora sair da sala e então disse para ele que iria fazer um M de Márcia no rosto dele com aquelas giletes para que ele nunca se esquecesse de mim, meio doida né?! Mas enfim. Corri atrás dele por toda sala e acabei da diretoria tendo que pedi desculpas para que meus pais não fossem chamados a escola. Não parece, mas essa é uma história de amor, passei o resto dos quatro anos do primário apaixonada por aquele menino que tirou onda com a minha cara. Há alguns anos atrás reencontrei com ele, moramos ainda no mesmo bairro, e ele, sorrindo, me contou que ainda se lembrava da história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário